A percepção do contexto
cultural de uma história é muito importante para a interpretação. Por exemplo,
não se pode estimar completamente o significado dos atos de Elias em 1 Reis 17
sem certo conhecimento da mitologia semítica ocidental. A viagem de Elias à
Fenícia ocorre durante o reinado de Acabe, que se casou com
uma mulher fenícia e tornou o culto a Baal
uma
religião oficial em Israel (l Rs 16.30-34). Para os cananeus, Baal era o deus
da chuva, responsável pelo crescimento da colheita. Que apropriado e irônico o
fato de o Senhor ter mandado uma seca à terra, como punição por causa da
apostasia de Acabe (1 Rs 17.1)!
Segundo o mito semítico
ocidental,
a chegada da seca foi um sinal de que Baal fora derrotado, ao menos
temporariamente, por seu maior inimigo, Mot, o deus da morte e do inferno.
Durante a época da seca, Baal era prisioneiro de Mot e incapaz de cumprir sua
responsabilidade como rei, que era suprir a carência do povo e assegurar a
fertilidade.
Contrapondo-se a esse
contexto, os feitos de Elias em 1 Reis 17 assumem grande significado. Por meio
de Acabe, o deus Baal, por assim dizer, invade o território israelita. Mas,
então, enquanto Baal está incapacitado e impossibilitado de recompensar seus
fiéis adoradores, o profeta do Senhor invade a base domiciliar dele. Por
intermédio de seu profeta Elias, o Senhor cuida de uma viúva carente,
suprindo-a milagrosamente com gêneros de primeira necessidade (farinha e óleo).
Enquanto Baal definha nas profundezas do inferno como prisioneiro da morte, o
Senhor demonstra seu poder sobre a morte, ressuscitando o filho da viúva. Os
acontecimentos registrados em 1 Reis 17 preparam o terreno para o confronto
entre Elias e os profetas de Baal no monte Carmelo
(l Rs 18).
Os profetas de Baal se retalhavam com facas, num esforço para ressuscitar o
deus deles da morte. O mito semítico ocidental indica que essa
automutilação era um ritual de lamentação destinado a facilitar o retorno de
Baal. Mas o Senhor prova que reina sobre as intempéries, quando consome o
sacrifício com raios e a seguir envia uma chuva torrencial.
Extraído de “Interpretação dos Livros Históricos”, de
Robert B. Chisholm Jr (Ed. Cultura Cristã).
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