quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Contexto cultural dos profetas

Subsídio para as lições do primeiro trimestre de 2013.


A percepção do contexto cultural de uma história é muito importante para a interpretação. Por exemplo, não se pode estimar completamente o significado dos atos de Elias em 1 Reis 17 sem certo conhecimento da mitologia semítica ocidental. A viagem de Elias à Fenícia ocorre durante o reinado de Acabe, que se casou com uma mulher fenícia e tornou o culto a Baal uma religião oficial em Israel (l Rs 16.30-34). Para os cananeus, Baal era o deus da chuva, responsável pelo crescimento da colheita. Que apropriado e irônico o fato de o Senhor ter mandado uma seca à terra, como punição por causa da apostasia de Acabe (1 Rs 17.1)!

Segundo o mito semítico ocidental, a chegada da seca foi um sinal de que Baal fora derrotado, ao menos temporariamente, por seu maior inimigo, Mot, o deus da morte e do inferno. Durante a época da seca, Baal era prisioneiro de Mot e incapaz de cumprir sua responsabilidade como rei, que era suprir a ca­rência do povo e assegurar a fertilidade.

Contrapondo-se a esse contexto, os feitos de Elias em 1 Reis 17 assumem grande significado. Por meio de Acabe, o deus Baal, por assim dizer, invade o território israelita. Mas, então, enquanto Baal está incapacitado e impossibilitado de recompensar seus fiéis adoradores, o profeta do Senhor invade a base domiciliar dele. Por intermédio de seu profeta Elias, o Senhor cuida de uma viúva carente, suprindo-a milagrosamente com gêneros de primeira necessidade (farinha e óleo). Enquanto Baal definha nas profundezas do inferno como prisioneiro da morte, o Senhor demonstra seu poder sobre a morte, ressuscitando o filho da viúva. Os acontecimentos registrados em 1 Reis 17 preparam o terreno para o confronto entre Elias e os profetas de Baal no monte Carmelo (l Rs 18). Os profetas de Baal se retalhavam com facas, num esforço para ressuscitar o deus deles da morte. O mito semítico ocidental indica que essa automutilação era um ritual de lamentação destinado a facilitar o retorno de Baal. Mas o Senhor prova que reina sobre as intempéries, quando consome o sacrifício com raios e a seguir envia uma chuva torrencial.

Extraído de “Interpretação dos Livros Históricos”, de Robert B. Chisholm Jr (Ed. Cultura Cristã).

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